Você
sabe o que a abordagem cognitiva tem a dizer sobre os sonhos? Leia este artigo
e aprenda um pouco sobre este tema!
A
abordagem cognitiva envolve teorias que consideram que a maneira como a pessoa
estrutura as próprias experiências define o modo com ela se sente e se
comporta. Assim, os sentimentos são determinados pelo modo como são
interpretados, não pelas situações. Baseada nos problemas do cliente, a terapia
cognitiva trabalha com o estabelecimento de metas específicas e com a
identificação de pensamentos automáticos testáveis que impedem a realização de
tais metas (DATTÍLIO e FREEMAN, 1998; RANGÉ, 2001 apud SOUZA e CÂNDIDO, 2010). Com o passar do tempo as técnicas
cognitivas vem sendo aprimoradas, buscando “instrumentalizar os terapeutas para
o trabalho de identificação, análise e reestruturação do sistema de crenças do
cliente” (SOUZA e CÂNDIDO, 2010, p. 87).
E
os sonhos?
Dentre
os diversos significados atribuídos à palavra “sonho” encontrados no dicionário
Michaelis, selecionamos as que mais se aproximam da Psicologia: a) Conjunto de
sensações, percepções e representações mais ou menos realistas, geralmente
visuais, que aparecem durante o sono, de caráter confuso e incoerente; b) conjunto
de pensamentos, imagens, ideias e fantasias que se experimenta enquanto se
dorme.
O que se pode observar por meio
dessas definições é que os sonhos fazem parte da experiência humana, sendo a
pessoa que sonha sujeito ativo e não um mero observador passivo. Na abordagem
cognitiva, Vandenberghe e Pitanga (2007) afirmam que os sonhos possibilitam a dramatização
das crenças sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro, sendo que o
material particular dos sonhos procede das experiências e crenças atuais da
pessoa.
Beck
considera que alguns sonhos têm conteúdos relacionados à personalidade do
indivíduo, podendo conter expectativas e temas similares aos pensamentos desta
enquanto acordada e a expressão de preocupações conscientes (BECK, 1971 apud SHINOHARA, 2006). Além disso, os
relatos dos sonhos possibilitam aos clientes “ter um papel criativo durante a
exploração dos conteúdos e entender o seu sentido, e a partir daí conhecer e
reconhecer certas crenças fundamentais e distorções cognitivas que influenciam
seu cotidiano” (BECK, 1971, apud VANDENBERGHE
e PITANGA, 2007, p. 242).
Na prática, “o
material do sonho pode ser usado nas mesmas intervenções de reestruturação
cognitiva, [...] o paciente pode aprender a analisar e discutir os temas
disfuncionais expressos nos sonhos e modificar sua reação emocional em relação
a ele”. (VANDENBERGHE e PITANGA, 2007,
p. 242). Um instrumento que pode ser utilizado é o Registro de Pensamentos
Disfuncionais (RPD), no qual o cliente registra pensamentos, sentimentos e
ações clinicamente relevantes entre as sessões e os sonhos podem ser da mesma
forma, relatados e discutidos por meio dele (SHINOHARA, 2006). Além disso,
conforme Freeman e Bayll (1992 apud
Vandenberghe e Pitanga, 2007), quando
ocorre um bloqueio na terapia no qual o cliente não consegue trazer conteúdos das
vivências acordadas para serem trabalhados, os sonhos podem ser utilizados com
igual efetividade.
Na terapia cognitiva, “o
terapeuta tem um papel de guia que acompanha e não de um
perito que conhece os sentidos dos sonhos”, logo, um aspecto fundamental nesta
terapia “é que o próprio paciente deve interpretar seus sonhos” (FREEMAN e
BAYLL, 1992 apud VANDENBERGHE e
PITANGA, 2007, p. 242). Shinohara
(2006) considera que, como qualquer outro assunto, os sonhos podem fazer parte
da sessão, muitas vezes sendo trazidos espontaneamente pelo cliente. No
entanto, muitos terapeutas cognitivo-comportamentais sentem dificuldade nestes
momentos devido à falta de familiaridade com o assunto decorrente da carência
de referências claras na bibliografia regular.
Não há dúvidas
de que os sonhos são conteúdos relevantes na terapia, pois possibilitam ao
cliente reconhecer aspectos significativos que podem auxiliar nas dificuldades
que está vivenciando e encontrar neles imagens e momentos que lhe tragam
inspiração. O desenvolvimento de pesquisas sobre o tema pode auxiliar o
terapeuta cognitivo a melhor compreender os relatos dos sonhos e intervir da
devida forma, visando sempre o progresso do cliente na terapia.
Referências:
Dicionário
Online Michaelis. Editora Melhoramentos Ltda, 2015. Disponível em: < http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=sonho>.
Acesso em: 05/jul/2016 às 18h29min.
SHINOHARA,
Helene. O trabalho com sonhos na terapia
cognitiva. Rev.
bras. ter. cogn., Rio de Janeiro, v.2, n.
2, p. 85-90, 2006.
SOUZA,
Isabel Cristina Weiss de; CÂNDIDO, Carolina Ferreira Guarnieri. Diagnóstico psicológico e terapia cognitiva:
considerações atuais. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 5, n.2, p.
82-93, 2010.
VANDENBERGHE,
Luc; PITANGA, Artur Vandré. A análise de
sonhos nas terapias cognitivas e comportamentais. Estudos de Psicologia,
v. 24, n.2, p. 239-246, 2007.
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