sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Artigo - Os sonhos na abordagem cognitiva


Você sabe o que a abordagem cognitiva tem a dizer sobre os sonhos? Leia este artigo e aprenda um pouco sobre este tema!

A abordagem cognitiva envolve teorias que consideram que a maneira como a pessoa estrutura as próprias experiências define o modo com ela se sente e se comporta. Assim, os sentimentos são determinados pelo modo como são interpretados, não pelas situações. Baseada nos problemas do cliente, a terapia cognitiva trabalha com o estabelecimento de metas específicas e com a identificação de pensamentos automáticos testáveis que impedem a realização de tais metas (DATTÍLIO e FREEMAN, 1998; RANGÉ, 2001 apud SOUZA e CÂNDIDO, 2010). Com o passar do tempo as técnicas cognitivas vem sendo aprimoradas, buscando “instrumentalizar os terapeutas para o trabalho de identificação, análise e reestruturação do sistema de crenças do cliente” (SOUZA e CÂNDIDO, 2010, p. 87).        
       
E os sonhos? 
Dentre os diversos significados atribuídos à palavra “sonho” encontrados no dicionário Michaelis, selecionamos as que mais se aproximam da Psicologia: a) Conjunto de sensações, percepções e representações mais ou menos realistas, geralmente visuais, que aparecem durante o sono, de caráter confuso e incoerente; b) conjunto de pensamentos, imagens, ideias e fantasias que se experimenta enquanto se dorme. 

O que se pode observar por meio dessas definições é que os sonhos fazem parte da experiência humana, sendo a pessoa que sonha sujeito ativo e não um mero observador passivo. Na abordagem cognitiva, Vandenberghe e Pitanga (2007) afirmam que os sonhos possibilitam a dramatização das crenças sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro, sendo que o material particular dos sonhos procede das experiências e crenças atuais da pessoa. 

Beck considera que alguns sonhos têm conteúdos relacionados à personalidade do indivíduo, podendo conter expectativas e temas similares aos pensamentos desta enquanto acordada e a expressão de preocupações conscientes (BECK, 1971 apud SHINOHARA, 2006). Além disso, os relatos dos sonhos possibilitam aos clientes “ter um papel criativo durante a exploração dos conteúdos e entender o seu sentido, e a partir daí conhecer e reconhecer certas crenças fundamentais e distorções cognitivas que influenciam seu cotidiano” (BECK, 1971, apud VANDENBERGHE e PITANGA, 2007, p. 242).

Na prática, “o material do sonho pode ser usado nas mesmas intervenções de reestruturação cognitiva, [...] o paciente pode aprender a analisar e discutir os temas disfuncionais expressos nos sonhos e modificar sua reação emocional em relação a ele”.  (VANDENBERGHE e PITANGA, 2007, p. 242). Um instrumento que pode ser utilizado é o Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD), no qual o cliente registra pensamentos, sentimentos e ações clinicamente relevantes entre as sessões e os sonhos podem ser da mesma forma, relatados e discutidos por meio dele (SHINOHARA, 2006). Além disso, conforme Freeman e Bayll (1992 apud Vandenberghe e Pitanga, 2007), quando ocorre um bloqueio na terapia no qual o cliente não consegue trazer conteúdos das vivências acordadas para serem trabalhados, os sonhos podem ser utilizados com igual efetividade.

Na terapia cognitiva, “o terapeuta tem um papel de guia que acompanha e não de um perito que conhece os sentidos dos sonhos”, logo, um aspecto fundamental nesta terapia “é que o próprio paciente deve interpretar seus sonhos” (FREEMAN e BAYLL, 1992 apud VANDENBERGHE e PITANGA, 2007, p. 242). Shinohara (2006) considera que, como qualquer outro assunto, os sonhos podem fazer parte da sessão, muitas vezes sendo trazidos espontaneamente pelo cliente. No entanto, muitos terapeutas cognitivo-comportamentais sentem dificuldade nestes momentos devido à falta de familiaridade com o assunto decorrente da carência de referências claras na bibliografia regular.

Não há dúvidas de que os sonhos são conteúdos relevantes na terapia, pois possibilitam ao cliente reconhecer aspectos significativos que podem auxiliar nas dificuldades que está vivenciando e encontrar neles imagens e momentos que lhe tragam inspiração. O desenvolvimento de pesquisas sobre o tema pode auxiliar o terapeuta cognitivo a melhor compreender os relatos dos sonhos e intervir da devida forma, visando sempre o progresso do cliente na terapia.

Referências:

Dicionário Online Michaelis. Editora Melhoramentos Ltda, 2015. Disponível em: < http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=sonho>. Acesso em: 05/jul/2016 às 18h29min.

SHINOHARA, Helene. O trabalho com sonhos na terapia cognitiva. Rev. bras. ter. cogn.,  Rio de Janeiro, v.2, n. 2, p. 85-90, 2006.

SOUZA, Isabel Cristina Weiss de; CÂNDIDO, Carolina Ferreira Guarnieri. Diagnóstico psicológico e terapia cognitiva: considerações atuais. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 5, n.2, p. 82-93, 2010.

VANDENBERGHE, Luc; PITANGA, Artur Vandré. A análise de sonhos nas terapias cognitivas e comportamentais. Estudos de Psicologia, v. 24, n.2, p. 239-246, 2007.



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