No dia 02 de abril comemora-se o
Dia Mundial da Conscientização do Autismo, a data foi estabelecida pela ONU -
Organização das Nações Unidas em 2008. De fato, o TEA- Transtorno do Espectro Autista
- tornou-se mais conhecido, entretanto, o tema ainda gera dúvidas e divide
opiniões, por isso é importante falar sobre o autismo.
Para Wingate et al (2014, apud Schmidt et al,2016,
p. 223) “Pesquisas sobre a prevalência do autismo apontam para um crescimento
significativo do número de casos diagnosticados. Estudos norte‑americanos, por
exemplo, sugerem que para cada 68 crianças nascidas, uma possui esse transtorno”.
O aumento dos casos de autismo implica em uma comoção e adaptação social onde
hospitais, creches, escolas, empresas e até mesmo famílias devem estar
informadas e preparadas para lidar com as demandas provenientes do autista.
O manejo é facilitado a partir da
compreensão dos estados e necessidades específicas do autista, segundo Teixeira
(2016, p.24) “O transtorno do espectro autista pode ser definido como um
conjunto de condições comportamentais caracterizadas por prejuízos no
desenvolvimento de habilidades sociais, da comunicação e da cognição da
criança”. O diagnóstico é orientado pela
quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação
Psiquiátrica Americana (DSM-V), os critérios envolvem questões de comunicação,
interação social, padrões repetitivos e restritivos das crianças com TEA sendo que
o desempenho motor não é utilizado como medida para este diagnóstico (CATELLI, ANTINO
e ASSIS, 2016), desta forma é possível considerar como os três pilares do
autismo, os prejuízos na socialização, na linguagem verbal e não verbal e os
comportamentos repetitivos e estereotipados.
Apesar
de haver algumas características comuns, quando é feito o diagnóstico do TEA é
preciso compreender o perfil intelectual e a gravidade da condição autística,
segundo a American Psychiatric
Association (2014, apud Andrade et al,2016, p.8) “o prejuízo funcional
irá variar de acordo com as características do indivíduo e seu ambiente, [...]
as manifestações do transtorno variam muito dependendo dos sintomas, do nível
de desenvolvimento e da idade cronológica, daí o uso do termo espectro”.
Os
cuidados com o autista se iniciam com a compreensão de pais e cuidadores, mas
perpassam por um acompanhamento clínico, psicológico, neurológico,
educacional e social, quanto mais
precoce for o diagnóstico tanto mais rápida pode ser feita a intervenção para
adaptação e retomada do percurso no desenvolvimento. Teixeira (2016, p. 44-48) indica alguns sinais
de alerta, conforme abaixo, para o diagnóstico precoce do autismo, que podem
ser percebidos a partir de 4 meses de idade:
Aos
4 meses de idade: Não
acompanha objetos que se movem na sua frente; Não sorri para as pessoas; Não
leva as mãos ou objetos à boca; Não responde a sons altos; Não emite sons com a
boca; Não sustenta a própria cabeça; Dificuldade em mover os olhos para todas
as direções; Perdeu habilidades que já
possuía.
Aos
6 meses de idade: Não tenta pegar objetos que estão
próximos; Não demonstra afeto por pessoas familiares; Não responde a sons
emitidos nas proximidades; Não emite pequenas vocalizações; Não sorri,; Não dá
risadas, nem manifesta expressões alegres; Perdeu habilidades que já possuía.
Aos
9 meses de idade: Não senta, mesmo com auxílio; Não
balbucia; Não reconhece o próprio nome; Não reconhece pessoas familiares; Não
olha para onde você aponta; Não passa os brinquedos de uma mão para outra; Não
demonstra reciprocidade; Não responde às tentativas de interação; Perdeu habilidades
que já possuía.
Aos
12 meses de idade: Não faz contato visual; Não engatinha; Não
fica em pé, mesmo segurado; Não procura objetos que vê sendo escondidos; Não
fala palavras como “papai” ou “mamãe”; Não entende comandos como o mandar
tchau; Não aponta para objetos; Perdeu habilidades que já possuía.
Aos
18 meses de idade: Não anda; Não fala pelo menos 6
palavras; Não aprende novas palavras; Não expressa o que quer; Não aponta para mostrar algo; Não se importa
quando o cuidador se afasta ou se aproxima; Não copia comportamentos; Perdeu
habilidades que já possuía.
Aos
2 anos de idade: Não fala frases com duas palavras que
não sejam imitação (exemplo: quero água); Não copia ações ou palavras; Não
segue instruções simples; Não anda de forma equilibrada; Não entende o que
fazer com utensílios comuns, como colher, telefone, escova de cabelo; Perdeu
habilidades que já possuía.
Aos
3 anos de idade: Cai muito ao andar; Fala muito
precária ou incompreensível; Não compreende comandos simples; Não consegue
brincar de “faz-de-conta”; Não consegue brincar com brinquedos simples
(exemplo: quebra-cabeça, LEGO ); Não tem interesse em
brincar com outras crianças; Perdeu habilidades que já possuía.
Aos
4 anos de idade: Não brinca com outras crianças; Interage
com poucas pessoas; Resiste a trocar de roupas; Não aprende histórias de “faz-de-conta”; Apresenta dificuldades na fala; Não entende comandos simples; Não usa os
pronomes “você” e “eu” corretamente; Tem dificuldade em rabiscar um desenho; Perdeu
habilidades que já possuía.
Aos
5 anos de idade: Não demonstra variedade de emoções; É pouco ativo; Nica distraído facilmente; Não interage com pessoas; Não sabe
diferenciar o que é real do que é imaginário; Não desenha figuras; Não consegue
escovar os dentes, tomar banho ou se vestir sozinho; Não conversa sobre
atividades ou experiências diárias vividas; Não consegue falar o próprio nome
completo; Não consegue jogar ou praticar uma série de atividades; Não usa o
plural ou o tempo passado corretamente; Perdeu habilidades que já possuía.
De acordo com Cipriano e Almeida
(2016, p. 82) indivíduos com TEA apresentam “comportamento característico de
rigidez, repetição de movimentos e escolhas, baixa atividade exploratória
(brincar empobrecido) [...], com déficit no comportamento social”, por conta
das características tão individuais do autismo a questão preocupa pais e
cuidadores que muitas vezes sentem que o autista vive em um mundo isolado,
sendo impossível adentrar e auxiliá-lo, após o diagnóstico é preciso buscar
formas de intervenção adequadas e acompanhar a evolução para cada autista.
O
tratamento do autismo é realizado através de um plano individual já que o
TEA abrange uma série de
possibilidades e necessidades específicas. Existem algumas modalidades terapêuticas que
podem ser utilizadas como: orientação familiar e psicoeducação, enriquecimento
do ambiente, medicação, terapia cognitivo-comportamental, treinamento em
habilidades sociais, método ABA (Análise do Comportamento Aplicada),
fonoaudióloga, terapia ocupacional, terapia de integração sensorial, método
TACCH (Tratamento e Educação de Crianças com Autismo e Dificuldade de
Comunicação), método PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras), método
Floortime (estimula o desenvolvimento
emocional e relacional da criança), uso de mediador escolar, uso de esportes,
grupos de apoio, entre outros (TEIXAIRA, 2016).Tanto o diagnóstico, quanto
tratamento e acompanhamento devem ser realizados por profissionais qualificados:
psicólogos, psiquiatras, neurologistas, pediatras, fonoaudiólogos,
profissionais da educação, entre outros, podem participar do processo.
Referências
ANDRADE, Aline Abreu; OHNO,
Priscilla Moreira; MAGALHÃES,Caroline Greiner de; BARRETO, Isabella Soares. Treinamento de Pais e Autismo: Uma
Revisão de Literatura. Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais-BH - Revista Ciências &
Cognição, Vol. 21(1) 007-022, Minas Gerais; 2016.
CATELLI,
Carolina Lourenço Reis Quedas; ANTINO, Maria Eloisa Famá D´; ASSIS, Silvana
Maria Blascovi. Aspectos motores em
indivíduos com transtorno do espectro autista: revisão de literatura. Universidade
Presbiteriana Mackenzie CCBS – Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São
Paulo, v.16, n.1, p. 56-65, 2016.
CIPRIANO, M. S. ; ALMEIDA, M. T. P. de. O brincar como intervenção no
transtorno do espectro do autismo. Extensão em Ação, Fortaleza, v.2, n.11, Jul./Out.-Edição
especial,
2016.
SCHMIDT,Carlo
; NUNES, Débora Regina de Paula ;
PEREIRA, Débora Mara ; OLIVEIRA ,Vivian
Fátima de ; NUERNBERG, Adriano Henrique ; KUBASKI, Cristiane Inclusão escolar e autismo: uma análise
da percepção docente e práticas pedagógicas. Revista Psicologia: Teoria e
Prática, 18(1), 222-235. São Paulo, SP, jan.-abr. 2016,v.18-n1, p.222-235.
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
TEIXEIRA,
Gustavo. Manual do autismo: Guia dos
pais para o tratamento completo. 2. Ed.- Rio de Janeiro: Bestseller, 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário