Diante
da morte de um ente querido a dor e o sofrimento psíquico se mostram indescritíveis
e imensuráveis. Geralmente, as pessoas não estão preparadas para lidar com a
finitude da vida e com o consequente rompimento de um vínculo afetivo, o que
torna a elaboração da perda mais árdua. Tido como um conjunto de reações diante
de uma perda, o luto pode ser concebido como “a fase da expressão dos
sentimentos decorrentes da perda [...], de aprender que a morte deve ser
tornada real” (OLIVEIRA e LOPES, 2008, p. 218).
A forma de compreender a morte varia
conforme o tempo, a cultura, a religião e as crenças. Da mesma forma, fatores
como gênero, grau de parentesco, tipo de morte, vínculos e recursos internos
podem ou não proporcionar a elaboração normal do luto (BASSO e WAINER, 2011). Tal
fase pode ser considerada normal quando ocorre uma resposta saudável diante da
perda, ou seja, quando a pessoa demonstra capacidade de expressar a sua dor.
Entretanto, quando essa capacidade não está desenvolvida, pode ocorrer o luto
complicado, caracterizado pela negação da dor pela perda e sentimentos de
solidão, fragilidade e depressão (PARKES, 1998 apud BASSO e WAINER, 2011).
Em seu livro “Sobre a
morte e o morrer” (1996), Elisabeth Kübler-Ross descreve sua experiência com
pacientes em fase terminal. Tal experiência deu origem aos cinco estágios do
luto, descritos a seguir:
Negação e isolamento:
Conforme descrito pela autora, este estágio é uma defesa temporária que “funciona
como um pára-choque depois de notícias inesperadas e chocantes”. (KÜBLER-ROSS,
1996, p. 52). Assim, a pessoa busca justificar de todo modo que houve algum
equívoco e que a notícia recebida não é real.
Raiva:
É neste estágio que, geralmente, são manifestos questionamentos e expressos
diversos sentimentos hostis, pois “quando não é mais possível manter firme o
primeiro estágio de negação, ele é substituído por sentimentos de raiva, de
revolta, de inveja e de ressentimento” (KÜBLER-ROSS, 1996, p. 63).
Barganha:
Este estágio é caracterizado por uma procrastinação do sofrimento, mais
precisamente, “é uma tentativa, de negociar ou adiar os temores diante da
situação; as pessoas buscam firmar acordos com figuras que segundo suas crenças
teriam poder de intervenção sobre a situação de perda” (KÜBLER-ROSS, 2005 apud BASSO e WAINER, 2011, p. 38).
Depressão:
considerada o quarto estágio, pode ser classificada como preparatória, quando
se aproxima a aceitação e as pessoas se retiram e refletem sobre o momento por
qual passam, ou reativa, quando ocorrem outras perdas em consequência à perda
da morte como, por exemplo, prejuízos financeiros e papéis familiares (KÜBLER-ROSS,
2005 apud BASSO e WAINER, 2011).
Aceitação:
o último dos estágios possibilita que a pessoa “passe a encarar sua nova
realidade e a dar significado a ela, na medida em que novas relações podem ser
estabelecidas e que se possa aprender a viver sem a pessoa que se foi” (NETTO,
2015, p. 5). É também nesta fase que aflições, dificuldades e diversos sentimentos
são expressos de modo mais claro para que se possa enfim, empreender uma maior compreensão
e enfrentamento da situação.
É importante salientar que não
necessariamente todas as pessoas passarão por estes estágios, na ordem
apresentada e com todas as características evidenciadas. Conforme Basso e
Wainer (2011, p. 38) “cabe ressaltar que, esses estágios não são um roteiro a
ser seguido e que podem sofrer alterações de acordo com cada perspectiva
pessoal”.
Outros autores também estudaram o
luto, dando origens a diversas obras: Freud apresenta sua percepção acerca do assunto
em “Luto e Melancolia”, John Bowlby, por sua vez, dissertou seu entendimento
sobre o tema de acordo com a “Teoria do Apego” e no livro “Formação e
Rompimento dos Laços Afetivos” e Colin Murray Parkes discorre a respeito do assunto
em “Estudos sobre a perda na vida adulta” (ALMEIDA, 2015).
Conforme
exposto, lidar com a morte é uma tarefa difícil, cercada de dúvidas, medos e
receios, tornando-se mais complexa ao envolver outras questões, como crenças,
religião e cultura. Neste sentido, os estágios descritos podem ser considerados
uma maneira mais didática de compreender a vivência do enlutado, ainda que
tenhamos de nos atentar às características e percepções individuais envolvidas.
O psicólogo pode ajudar as pessoas
que passam pelo processo de elaboração do luto a partir de uma avaliação da
atual condição destas, traçando um plano terapêutico adequado à situação e
proporcionando o devido suporte para que cheguem a um estado de adaptação à
nova condição e reorganização da própria vida.
Referências:
ALMEIDA, Tatiene
Ciribelli Santos. Espiritualidade e resiliência: enfrentamento em situações de
luto. Sacrilegens, v. 12, n.1, p.
72-91, 2015.
BASSO, Lissia Ana; WAINER,
Ricardo. Luto e perdas repentinas: Contribuições da Terapia
Cognitivo-Comportamental. Revista
Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 7, n.1, p. 35-43, 2011.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que os
doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos
seus próprios parentes. Tradução: Paulo Menezes. 7 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
NETTO, José Valdecí
Grigoleto. As fases do luto de acordo com Elisabeth Kübler-Ross. IX EPCC – Encontro Internacional de
Produção Científica UniCesumar, v.1, n.9, p. 4-8, 2015.
OLIVEIRA, João Batista
Alves de; LOPES, Ruth Gelehrter da Costa. O processo de luto no
idoso pela morte de cônjuge e filho. Psicologia
em Estudo, v. 13, n. 2, p. 217-221, 2008.
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