Em
pleno século XXI parece fácil falar de internet, não é mesmo?
Segundo
o IGBE, em 2014 54,9% dos
domicílios brasileiros tinham acesso à internet, sendo o celular o meio mais
utilizado para esta finalidade. É evidente que o desenvolvimento tecnológico
dos últimos tempos tornou o acesso à internet mais popular e diversificado:
pessoas de várias idades e classes sociais a utilizam como fonte de lazer,
ferramenta de trabalho e estudo, meio de comunicação, etc.
Conforme apontam Abreu et. al.
(2008, p. 157) “a internet dispensa qualquer forma de apresentação de suas
funcionalidades. De fato, além de favorecer a comunicação e a busca de
informações, é uma importante ferramenta de contato social”. A dimensão do tema
é tão ampla que Skitka e Sargis (2006, apud
Ferreira et. al., 2008, p. 306) julgam que a internet pode ser considerada um
laboratório psicológico, uma vez que “seus diversos recursos têm gerado novas
formas de interação, influenciando o pensamento, sentimento e comportamento”.
Assunção
e Matos (2014) citam os estudos de Parks e Floyd (1996) e de Valkenburg,
Schouten, e Peter (2005) que apontam para os fatores positivos que a internet pode
produzir no que se refere à interação social, como a possibilidade de comunicação
com os outros e com o mundo. Fortim e Araújo (2013, p. 304) consideram que a
rede também pode ser “um instrumento positivo para lidar com a timidez e com a
ansiedade social”. Mas há também os fatores negativos: o seu uso pode retirar
os usuários de situações sociais genuínas (KRAUT et. al, 1998, apud ASSUNÇÃO e MATOS, 2014) e em
situações mais extremas, a pessoa se torna dependente, conforme apontado por Sanchez-Carbonell
et. al. (2008 apud FORTIM e ARAÚJO,
2013), nestes casos a internet é
priorizada na vida do sujeito que passar a se isolar e dar exclusividade às
interações virtuais.
Por ser um tema atual, estudos acerca
da Psicologia e o uso da internet fornecem um panorama aberto a ser explorado.
Contudo, características do uso patológico da internet já podem ser encontradas
na literatura: dependência psicológica, apesar do desejo da pessoa de
controlá-la ou modificá-la; dificuldades em interromper a conexão; quando em
abstinência, podem ocorrer alterações de humor, irritabilidade, inquietude e
ansiedade. As consequências negativas afetam diversas áreas da vida da pessoa
que pode apresentar dificuldades no trabalho, como faltas e baixo rendimento, ter
prejuízos financeiros, descuidar de si e dos outros, causar conflitos
familiares, entre outros (SANCHEZ-CARBONELL et. al., 2008 apud FORTIM e ARAUJO, 2013).
Atualmente,
falar de internet e não pensar em redes sociais é algo improvável. Atraindo um
público cada vez maior, as redes sociais são consideradas como um “serviço
cibernético que permite aos indivíduos construir um perfil público ou semipúblico
acerca de si [...], o que permite que a sua informação seja vista por outros
incluídos no mesmo sistema” (BOYD e ELLISON, 2007, apud ASSUNÇÃO e MATOS, 2014, p. 540).
Ferreira et. al. (2008) consideram
importante o estudo das características desta nova forma de relacionamento e de
seus impactos nos relacionamentos face a face. Da mesma forma sugerem
investigações mais detalhadas acerca de aspectos como o anonimato, a facilidade
de acesso, a falta de privacidade e as características de personalidade que
podem estar associadas ao maior uso dessa modalidade de relacionamento. Outros
autores que estudaram o uso da rede social facebook,
concluíram que os jovens a consideram como uma extensão da sua esfera privada,
confundindo as noções de público e privado (WEST, LEWIS, e CURRIE, 2009 apud ASSUNÇÃO e MATOS, 2014).
É notório que o
surgimento da internet produziu mudanças na vida da maior parte das pessoas:
novos hábitos de comunicação, relacionamento, interação, produção, compra, estudo,
trabalho, entre outros. De fato, quando usada de forma moderada, os benefícios
podem ser muitos, visto que a internet é uma ferramenta que facilita a execução
de várias atividades, no entanto, formas acentuadas de vulnerabilidade pessoal
aliadas à má utilização podem gerar problemas como o uso patológico,
anteriormente citado. Estudar o comportamento das pessoas frente a este e
outros recursos se faz cada vez mais necessário em virtude do alcance cada vez
maior que as novas tecnologias têm atingido.
Referências:
ABREU, Cristiano Nabuco de, et. al. Dependência
de Internet e de jogos eletrônicos: uma revisão. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 30, n.2, p. 156-167, 2008.
ASSUNÇÃO,
Raquel Sofia; MATOS, Paula Mena. Perspectivas dos adolescentes sobre o uso do
facebook: um estudo qualitativo. Psicologia
em Estudo, v. 19, n. 3, p. 539-547, 2014.
FERREIRA,
Diogo C. S. et. al. Psicologia da era virtual: atitudes de estudantes
adolescentes frente ao Orkut. Psicologia
Argumento, v. 26, n.55, p. 305-317, 2008.
FOLHA
DE S. PAULO. Celular se torna principal meio de acesso à internet nos lares,
diz IBGE. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/04/1757972-celular-se-torna-principal-meio-de-acesso-a-internet-nos-lares-diz-ibge.shtml>
Acesso em: 21 jul 2016.
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